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Passados os períodos turbulentos da pandemia da Covid-19 no Brasil, o campo da economia criativa respira mais aliviado. Com o retorno gradual das atividades presenciais e a aprovação das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, o setor cultural, um dos mais afetados pela crise sanitária, começa a sentir alívio no processo da retomada de suas iniciativas. Criando empregos, gerando renda, estimulando o turismo e promovendo oportunidades de inclusão social, mas não somente isso. Além da superação dos desafios anteriores ao contexto pandêmico e que ficaram mais em evidência nos últimos quase três anos, o campo da cultura reforça laços entre pessoas e comunidades, resgatando memória, valorizando identidades locais, possibilitando repensar e revisitar o passado, interpretar o presente e projetar o futuro.

É o nosso patrimônio histórico, material e imaterial, uma das forças motrizes para o alcance do desenvolvimento sustentável. Sua potência, diversidade e singularidade fazem do Brasil um local único e repleto de riquezas que chegam até nós por meio os nossos antepassados e de todos que aqui hoje estão, homens e mulheres, criadores da magia que envolve o imaginário acerca de edificações e de inúmeros conhecimentos que ressignificam a importância perante a História, abraçando o patrimônio por seu valor intangível para a sociedade. Sem o componente humano, vivo, que cria relações simbólicas com monumentos e espaços físicos, nada seriam além de estruturas de concreto ou qualquer outro material.

No Instituto Neoenergia, reconhecemos a potência desta relação íntima e simbiótica entre corpo social e construções históricas. Acreditamos também que as organizações não só podem, como devem apoiar a preservação da cultura do nosso país como forma de fomento à cidadania e de contribuição à Agenda 2030 da ONU, atuando também em parceria com órgãos públicos e sociedade civil. Tríade que, consolidada, garante o crescimento do setor de economia criativa e permite que projetos de exaltação ao Patrimônio Cultural Brasileiro transcendam o campo das ideias e ganhem vida.

É o caso do pioneiro Programa de Iluminação Cultural do Instituto Neoenergia, que tem como objetivo a salvaguarda e a valorização de edificações históricas do país. Por meio da instalação de uma iluminação ecoeficiente, revitalizamos esses espaços emblemáticos para valorizar o legado histórico, impulsionar o desenvolvimento socioeconômico e o turismo sustentável. No entanto, essa é apenas a materialização de um processo de salvaguarda complexo, que envolve diretamente as comunidades das áreas contempladas, como também a construção de projetos com parceiros definidos a partir de um criterioso mapeamento de governança, como o que fazemos em nosso programa conduzido em parceria com a Brasilis Produções Culturais. A ação alumia mais do que traços arquitetônicos, mas o senso de pertencimento das populações à sua identidade local, resgatando a memória por meio de ações de educação patrimonial, pesquisa e intervenções culturais com artistas dessas regiões.

Desde 2015, a iniciativa já promoveu a revitalização de monumentos de quatro estados brasileiros. Iniciamos nossa jornada no município de Santa Cruz de Cabrália (BA), fazendo reluzir a Cruz de Cabrália, local emblemático da nossa história, cuja parceria para a implementação do projeto com os povos originários da região foi algo marcante na trajetória do Instituto. Os próximos destinos foram o Forte das Cinco Pontas, que abriga o Museu da Cidade do Recife, na capital de Pernambuco, a Fortaleza da Barra Grande, sede do Museu Histórico da Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, no Guarujá (SP), e o Memorial Câmara Cascudo, que homenageia o maior folclorista brasileiro, Luís da Câmara Cascudo, em Natal (RN).

Marcando o início de uma nova etapa de valorização do interior brasileiro, em 2022 retornamos a Pernambuco e desembarcamos em Triunfo, no Sertão do Pajeú. Com a missão de revitalizar o Theatro Cinema Guarany, um dos mais belos cartões-postais do estado e que completa 100 anos em 2022, o Programa de Iluminação Cultural firmou parcerias com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e as secretarias municipal e estadual de educação. Juntos, realizamos ações de educação patrimonial com 15 turmas de 14 escolas públicas da cidade, impactando cerca de 400 estudantes dos ensinos fundamental, médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Com o apoio de 15 professores e 3 arte-educadores, eles foram estimulados a conhecerem sobre o passado do Guarany e sua relevância cultural para a região, desfrutando do despertar de um sentimento de orgulho por fazer parte desta trajetória centenária.

Com a inauguração do novo projeto luminotécnico do Guarany, realizada no início de dezembro, Triunfo viu o seu principal equipamento cultural renovado. Para o evento, cerca de 100 artistas, fazedores de cultura e empreendedores locais puderam participar de uma grande intervenção cultural, que também contou com a presença de aproximadamente 1,2 mil pessoas, neste momento marcante para a história da cidade e do emblemático equipamento cultural. Um patrimônio tombado guardião das tradições triunfenses, onde foram encenadas importantes peças teatrais, exibidos clássicos do cinema nacional e apresentados shows de grandes nomes da MPB. Por onde também desfilam as manifestações folclóricas locais, como o Careta, principal personagem da cultura do município, além de poetas, músicos, dançarinos, circenses e tantos outros artistas. Expressões que preservam as práticas culturais e conectam a sociedade a essa construção histórica, fomentando a inclusão social, gerando trabalho e renda e afirmando o seu potencial turístico.

Para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), faz-se essencial considerar a cultura como esse vínculo afetivo e indissociável entre sociedade e território. É por meio dessa conexão que devemos reconhecer e valorizar o Patrimônio Cultural Brasileiro, possibilitando que outros municípios triunfem no reencontro à sua identidade e iluminem sua História. O verdadeiro resplandecer de um prédio não é conquistado a partir de uma obra de revitalização, mas com o resgate da memória local e dos códigos culturais de seu povo.

Salve o nosso Patrimônio Histórico!

Por Renata Chagas - Diretora-Presidente do Instituto Neoenergia