Desde antes de nascer, o destino de Elcie já era assunto de especulação: seria advogada, como seus pais. Ainda no ventre da mãe, ela era vista como uma espécie de "caloura honorária" entre os estudantes de direito da turma em que sua mãe se formava. Essas expectativas elevadas moldaram sua infância e adolescência em Belo Horizonte, e, embora a advocacia fizesse parte dos planos familiares, nem sempre correspondia aos sonhos que Elcie nutria para si.

Durante a infância, Elcie encontrou no esporte um universo que ia muito além de uma simples atividade física; era uma janela para o autoconhecimento e para descobrir as potências de seu corpo. Ao experimentar diversas modalidades, cada movimento parecia uma dança, um diálogo entre sua essência e o mundo ao seu redor. Na adolescência, essa conexão com o corpo se intensificou e ela passou a vê-lo como um aliado, um templo que cuidava com devoção. A prática de exercícios como o yoga trouxeram um profundo senso de equilíbrio, enquanto os esportes tornaram-se celebrações de sua vitalidade e energia, refletindo uma relação harmônica entre mente e corpo.

Criada em um lar espírita, Elcie encontrou na religião um alicerce essencial para sua vida, onde a dimensão física do corpo estava profundamente conectada à dimensão espiritual. Para ela, o corpo não era apenas uma matéria isolada, mas uma extensão vital do espírito, e ambos precisavam ser cuidados e cultivados. Além disso, foi na fé que ela descobriu a força do coletivo, compreendendo desde cedo o valor da solidariedade. Motivada por esse entendimento, começou a se engajar em ações sociais, dedicando-se ao cuidado dos mais necessitados. Assim, ainda jovem, Elcie estabeleceu dois pilares fundamentais para sua existência: o corpo e a fé, enxergando-os como forças interligadas que a integravam como ser humano, orientando suas escolhas e seu propósito de vida.

Na juventude, quando chegou o momento de decidir qual carreira seguir, Elcie se viu diante de uma difícil encruzilhada: cursar Direito, como seus pais tanto desejavam, ou seguir seu próprio sonho de fazer Educação Física. Apesar da paixão pelo esporte, Elcie não tinha muita clareza sobre as possibilidades profissionais que o segundo curso poderia oferecer. Assim, optou por se matricular em ambas as faculdades. No entanto, após um ano de estudos, tomou uma decisão crucial: abandonou o Direito para se dedicar integralmente à profissão que verdadeiramente pulsava em seu coração.

Determinada, Elcie seguiu o caminho da Educação Física com foco no lazer, uma área pela qual se sentia profundamente conectada. Desde o início, ela descartou a ideia de atuar como professora no ensino formal, uma opção que nunca a atraiu. Em vez disso, concentrou-se em trabalhar em espaços voltados para o lazer, atendendo pessoas de todas as idades, e encontrou sua verdadeira vocação em promover o bem-estar e a alegria por meio da atividade física.

Já formada e trilhando seu caminho no campo da educação física, Elcie cruzou o destino com Valdemar, um amigo que, aos poucos, foi semeando uma amizade profunda e cheia de significados. Essa amizade floresceu com o tempo, transformando-se em um grupo de jovens animados e festivos. Juntos viviam dias onde o canto e a dança se misturavam com a prática dos esportes, ecoando a liberdade e o vigor de seus corpos e corações.

À medida que essa conexão se aprofundava, algo maior começou a tomar forma. Inspirados por suas afinidades e pela força da amizade, decidiram criar um coletivo, a que chamaram de Fraternidade. Mais do que um grupo, a Fraternidade se tornou um espaço de reflexão e ação, um movimento espiritual guiado pelos princípios do espiritismo. Ali, unidos pelo desejo de transformar o mundo ao redor, começaram a realizar ações em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.

Com o passar do tempo, a irmã de Valdemar, Silvana, uma professora cuja sensibilidade era tão vasta quanto sua visão de mundo, enxergou o potencial daquele grupo. Admirando as habilidades e a energia transformadora da Fraternidade, lançou ao grupo uma ideia audaciosa, mas carregada de sonhos: “E se fizéssemos uma escola?”. Com essa simples pergunta, Silvana plantou a semente de algo grandioso. Era mais do que apenas uma instituição de ensino. Naquela sugestão, nascia a possibilidade de um futuro onde o saber e o espírito caminhassem lado a lado, guiados pelo propósito de iluminar mentes e corações. E, assim, uma nova jornada começava a ser escrita.

Dessa forma, inspirados por uma visão de educação libertária, Elcie e seu grupo decidiram fundar a Escola Maria Teixeira, que Elcie descreve como um verdadeiro “laboratório de bem viver”. A escola tem como princípios norteadores a inclusão e o trabalho colaborativo, valores nos quais Elcie acredita profundamente. A instituição atende a Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos (EJA), acolhendo estudantes de todas as idades, desde recém-nascidos até idosos com mais de 80 anos.

Embora Elcie nunca tivesse sonhado em ser professora de Educação Física e, inicialmente, não tivesse uma ligação direta com o campo da educação, a criação da escola transformou sua perspectiva. Ela passou a enxergar o processo de ensinar e aprender como algo fundamental e contínuo, compreendendo a profundidade do impacto da educação na vida das pessoas. Além de atuar como professora, Elcie desempenha um papel central na organização e estruturação da escola, dedicando-se à busca por recursos, já que, sendo uma iniciativa da sociedade civil, a instituição não conta com financiamento público. Sua liderança vai além da sala de aula, estendendo-se à sustentabilidade e ao crescimento desse projeto que reflete seus valores.

Junto a outros professores e pessoas comprometidas com a promoção de uma educação de qualidade no país, Elcie não apenas transformou o cenário educacional no interior de Luziânia, onde a Escola Elza Maria Teixeira está localizada, mas também permitiu que essa experiência transformasse a si mesma. A convivência com os diversos grupos de estudantes, somada à constante articulação para manter a escola funcionando, impulsionou Elcie a um processo de evolução pessoal e profissional profundo. O impacto que ela sempre sonhou causar na vida dos outros acabou, também, refletindo em sua própria jornada, revelando-se uma troca enriquecedora e contínua.

Apesar de enfrentar um cenário desafiador e complexo, Elcie se inspira no verbo "esperançar" de Paulo Freire, acreditando firmemente que um futuro melhor só será possível se começarmos a construí-lo no presente. Para ela, o caminho rumo a transformações significativas está sendo trilhado, e sua luta incansável é para que as desigualdades sejam completamente eliminadas. Elcie mantém viva a convicção de que a mudança começa com pequenas ações e com o compromisso de cada um em contribuir para um mundo mais justo e igualitário.

Quer conhecer mais?
Acesse as redes sociais de Elcie Helena: @elciehelenacosta e da Escola Maria Teixeira: @escola.mariateixeira.

Quer entrar em contato para saber como colaborar?
Envie um email para: elcie_helena@yahoo.com e contato@escolamariateixeira.com.

Créditos
  • Produzido por Agência EDN
  • Texto: Lucas Gregório
  • Fotos: Pedro Paquino e Hérick Almeida
Ficha técnica do vídeo
  • Produção: Agência EDN
  • Direção: Camila Vaz
  • Direção de fotografia e câmera: Pedro Paquino
  • Assistente de fotografia: Hérick Almeida
  • Drone: Pedro Paquino
  • Produção: Vitor Dumont e Camila Vaz
  • Produção executiva: Camila Vaz
  • Edição: Gabriel Felício e Camila Andrade
  • Colorização: Gabriel Felício
  • Finalização: Camila Vaz e Hérick Almeida
  • Acessibilidade: Sâmia Bianchi e Juliana Gonçalves
  • Arte e Motion: Camila Ribeiro e Davi Araújo