Regiane - A protetora dos pequenos
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita”
Gonzaguinha
Sem despertador, Regiane abre os olhos em plena 3h00 da manhã. Lá fora, só resta o silêncio e nem o barulho do trem que passa a menos de 100 metros da sua casa ousa atrapalhar a quietude daquela ocupação no bairro de Jardim dos Reis, em Franco da Rocha, SP. Levanta sem despertar os seus filhos mais novos, Stella e Daniel, que dormem no beliche em frente a sua cama.
Mesmo na escuridão, conhecendo aquela casa de dois cômodos, feita de tapume e que construiu com muita luta, se prepara para mais um dia de trabalho. Antes de sair, organiza toda a bagunça do dia anterior e garante que os gatos Negrito e Biscate e o cão He-man tenham o seu café da manhã, a ração que comprara há poucos dias, guardada em um canto dentro de uma sacola de plástico.
É a vida, é bonita e é bonita”
Gonzaguinha
Sem despertador, Regiane abre os olhos em plena 3h00 da manhã. Lá fora, só resta o silêncio e nem o barulho do trem que passa a menos de 100 metros da sua casa ousa atrapalhar a quietude daquela ocupação no bairro de Jardim dos Reis, em Franco da Rocha, SP. Levanta sem despertar os seus filhos mais novos, Stella e Daniel, que dormem no beliche em frente a sua cama.
Mesmo na escuridão, conhecendo aquela casa de dois cômodos, feita de tapume e que construiu com muita luta, se prepara para mais um dia de trabalho. Antes de sair, organiza toda a bagunça do dia anterior e garante que os gatos Negrito e Biscate e o cão He-man tenham o seu café da manhã, a ração que comprara há poucos dias, guardada em um canto dentro de uma sacola de plástico.
Às 4h00, sai de casa e já consegue ver e ouvir o trem que logo vai parar na estação Baltazar Fidélis e que a levará até a Barra Funda para o começo de suas atividades. Durante a manhã, de segunda a sexta, Regiane vende balas no metrô para garantir a alimentação do próximo dia, tanto para os seus filhos quanto para outras crianças que ela ajuda. Depois de vender algumas balas, volta na hora do almoço para preparar uma refeição para sua família. Naquele dia, Guilherme, o seu filho postiço, aparece e os quatro, depois da oração, comem um generoso prato de arroz, feijão e ovo. Durante a tarde, Regiane volta à estação de trem, mas com seu carrinho de roupas e assim começa sua segunda rodada de atividades no seu brechó itinerante. Além das balas, compõe sua renda com a venda de roupas que recebe de doações.
Nas quartas-feiras e sábados, sua rotina altera e essa é uma das maiores alegrias da sua vida. Ao lado da sua casa construiu um outro espaço, também de dois cômodos e tapume: a escolinha onde atende crianças de toda ocupação, ajudando-as principalmente na alfabetização e raciocínio matemático e servindo como um espaço de contra turno escolar, uma válvula de escape para que os pequenos possam sair de toda violência e calamidade a que são expostos cotidianamente. A ideia da escolinha surgiu no ápice da pandemia do coronavírus, quando sua filha Stella pediu para que a mãe ajudasse as outras crianças, colegas dela, a terem um espaço para aprenderem e se divertirem fora dos muros da escola que, naquele período, estava fechada. Dessa forma, Regiane criou o “Projeto Stella", uma escola nada tradicional de costumes, estruturas e padrões, mas que tem impactado a vida de dezenas de crianças da ocupação.
Antes mesmo do espaço físico ser criado, Regiane começou a receber crianças em sua casa, ensinando principalmente questões de cidadania que aprendeu por influência de uma amiga. Aos poucos, o projeto começou a crescer e receber ajuda de outras pessoas que vieram para construir o espaço da escolinha, doar materiais didáticos e até mesmo ensinar, como os casos da Ana e Nelda, duas amigas de Regiane que se ofereceram para dar aulas de matemática e português. Logo o ambiente passou a ganhar proporções e Regiane começou a despontar na ocupação como uma líder comunitária influente, trazendo ganhos consideráveis como doações de livros, roupas e, principalmente, comida.
Durante a pandemia, dentro da ocupação, muitas famílias perderam sua renda e não tinham condições de proverem uma alimentação adequada, principalmente às crianças. Regiane articulou um movimento de entrega de marmitas para as famílias e decidiu que dentro de sua escola, criança nenhuma passaria fome. Com as cestas básicas que recebia, começou a cozinhar para todos os seus alunos e, sendo uma cozinheira de mão cheia, demonstrou o amor e carinho que muitos precisam por meio dos estudos e da comida que nunca deixou faltar. Segundo ela, educação e comida no prato são as coisas mais importantes para o ser humano.
Hoje, aos 47 anos, Regiane é uma guardiã da infância e se considera como “uma eterna criança". A sua alegria é poder brincar e estar com os pequenos e, principalmente, com seus filhos. Contudo, a infância, algo muito valioso para ela, não foi uma das experiências mais positivas da sua vida. Ainda muito pequena, Regiane foi violentada por seus familiares, demonstrando a triste realidade de milhares de crianças brasileiras, sobretudo de meninas negras. No ambiente escolar, sofreu bullying e exclusão por parte de colegas e professores. Quando chegou à adolescência, se envolveu com drogas e até tentou o suícidio. Ela própria reconhece que sua vida foi difícil em muitos aspectos e que, muitas vezes, sofreu injustiças e abandonos trágicos que a marcaram profundamente. Com toda essa trajetória de dor e sofrimento, abandonou os estudos e seguiu uma vida cheia de percalços.
Antes mesmo do espaço físico ser criado, Regiane começou a receber crianças em sua casa, ensinando principalmente questões de cidadania que aprendeu por influência de uma amiga. Aos poucos, o projeto começou a crescer e receber ajuda de outras pessoas que vieram para construir o espaço da escolinha, doar materiais didáticos e até mesmo ensinar, como os casos da Ana e Nelda, duas amigas de Regiane que se ofereceram para dar aulas de matemática e português. Logo o ambiente passou a ganhar proporções e Regiane começou a despontar na ocupação como uma líder comunitária influente, trazendo ganhos consideráveis como doações de livros, roupas e, principalmente, comida.
Durante a pandemia, dentro da ocupação, muitas famílias perderam sua renda e não tinham condições de proverem uma alimentação adequada, principalmente às crianças. Regiane articulou um movimento de entrega de marmitas para as famílias e decidiu que dentro de sua escola, criança nenhuma passaria fome. Com as cestas básicas que recebia, começou a cozinhar para todos os seus alunos e, sendo uma cozinheira de mão cheia, demonstrou o amor e carinho que muitos precisam por meio dos estudos e da comida que nunca deixou faltar. Segundo ela, educação e comida no prato são as coisas mais importantes para o ser humano.
Hoje, aos 47 anos, Regiane é uma guardiã da infância e se considera como “uma eterna criança". A sua alegria é poder brincar e estar com os pequenos e, principalmente, com seus filhos. Contudo, a infância, algo muito valioso para ela, não foi uma das experiências mais positivas da sua vida. Ainda muito pequena, Regiane foi violentada por seus familiares, demonstrando a triste realidade de milhares de crianças brasileiras, sobretudo de meninas negras. No ambiente escolar, sofreu bullying e exclusão por parte de colegas e professores. Quando chegou à adolescência, se envolveu com drogas e até tentou o suícidio. Ela própria reconhece que sua vida foi difícil em muitos aspectos e que, muitas vezes, sofreu injustiças e abandonos trágicos que a marcaram profundamente. Com toda essa trajetória de dor e sofrimento, abandonou os estudos e seguiu uma vida cheia de percalços.
O ponto de virada da sua vida foi quando sua mãe decidiu frequentar uma igreja evangélica. Regiane começou a acompanhá-la nos cultos e encontrou na fé um pilar muito importante na sua vida. Nessa época, começou a trabalhar como doméstica, profissão que perdeu por causa da pandemia, e teve seus primeiros filhos antes da Stella e Daniel, o Edgar e Isaque. Sendo mãe, carrega em si a força de superar todos os desafios do cotidiano, afirmando: “tenho em meu coração a vontade de vencer".
Apesar de todo sofrimento, Regiane não carrega mágoas. Ao se definir em uma palavra, exclama o termo “felicidade" e quando pensa em toda sua caminhada e conquistas, celebra as pessoas que a acompanharam e a ajudaram, questionando: “como acreditaram no sonho de uma pessoa que nem estudou?". Mesmo sem estudar, Regiane foi capaz de oferecer estudo a muitas crianças e adolescentes da comunidade e continua esperançando um novo mundo, afirmando que “temos que ser alegres! Temos que passar pelas dificuldades acreditando que amanhã, que o mundo, será melhor".
No fim do dia, após vender balas, roupas, preparar comida, cuidar das crianças e ser mais uma brasileira lutando pela sobrevivência sua e da sua família, Regiane descansa, sonhando com um futuro melhor para ela e para os seus pequenos.
Apesar de todo sofrimento, Regiane não carrega mágoas. Ao se definir em uma palavra, exclama o termo “felicidade" e quando pensa em toda sua caminhada e conquistas, celebra as pessoas que a acompanharam e a ajudaram, questionando: “como acreditaram no sonho de uma pessoa que nem estudou?". Mesmo sem estudar, Regiane foi capaz de oferecer estudo a muitas crianças e adolescentes da comunidade e continua esperançando um novo mundo, afirmando que “temos que ser alegres! Temos que passar pelas dificuldades acreditando que amanhã, que o mundo, será melhor".
No fim do dia, após vender balas, roupas, preparar comida, cuidar das crianças e ser mais uma brasileira lutando pela sobrevivência sua e da sua família, Regiane descansa, sonhando com um futuro melhor para ela e para os seus pequenos.
Créditos
Ficha técnica vídeo
- Produzido por Escola de Notícias
- Texto: Lucas Gregório
- Fotos: Maykon Lima e Pedro Medeiros
Ficha técnica vídeo
- Produzido por Escola de Notícias
- Direção: Camila Vaz
- Direção de fotografia e câmera: Pedro Medeiros
- Assistente de fotografia: Maykon Lima
- Drone: Pedro Medeiros
- Som: Maykon Lima
- Produção: Lucas Gregório Viana
- Produção executiva: Camila Vaz
- Edição e finalização: Pedro Medeiros
- Arte e Motion: Camila Ribeiro e Davi Araújo