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Investimento Social Privado: caminhos e desafios para a resiliência climática

Já se passaram mais de três semanas desde que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu o primeiro alerta vermelho de chuvas previstas para o Rio Grande do Sul. Desde então, acompanhamos, perplexos, os desdobramentos de um dos maiores desastres naturais da história do nosso país. Centenas de mortos e desaparecidos, milhões de pessoas afetadas e centenas de milhares de desalojados pelo evento climático extremo que já impactou mais de 450 municípios gaúchos.

Em meio a essa triste realidade, surgiu uma corrente de solidariedade que está mobilizando toda a sociedade em prol de doações para as vítimas. De todas as regiões do Brasil são enviados itens de primeira necessidade e recursos financeiros para minimizar a dor e o sofrimento daqueles que viram a força da água destruir vidas e sonhos. As organizações vêm cumprindo um papel importante nesse processo, contribuindo ativamente em ações de ajuda humanitária e apoio emergencial.

Mas é preciso que nós - empresas, institutos e fundações - atuemos com esse mesmo afinco em iniciativas preditivas de combate às mudanças climáticas. Tão importante quanto oferecer respostas aos eventos extremos é uma maior aderência da agenda de resiliência climática às estratégias do Investimento Social Privado (ISP). Fenômenos meteorológicos intensos serão cada vez mais comuns ao longo dos próximos anos e precisaremos estar bem preparados para enfrentá-los.

No entanto, dados do Censo GIFE 22-23 apontam que “Ambiente natural e sustentabilidade” e “Ambiente urbano e sustentabilidade” são áreas temáticas de atuação de apenas 26% e 23% das organizações, respectivamente, e receberam somente R$ 277 milhões dos R$ 4,78 bilhões mobilizados pelo ISP. Simultaneamente, o BISC 2023 demonstra que a taxa de cobertura do Investimento Social Corporativo (ISC) em projetos e programas associados ao “Meio ambiente nas comunidades” caiu de 50%, em 2020, para 31%, em 2022. No mesmo período, “Proteção da flora e da fauna” passou de 33% para 15%.

Os números ligam o alerta para a necessidade de concentrarmos maiores esforços em assuntos conectados à gestão do colapso ambiental. Nesse sentido, destaco o Compromisso Brasileiro da Filantropia sobre Mudanças Climáticas, liderado pelo GIFE e lançado na COP 28, no ano passado, como uma articulação vital para revertermos esse quadro. Signatário do movimento, o Instituto Neoenergia vislumbra grandes oportunidades de atuação coordenada entre organizações, em especial nos territórios em situação de vulnerabilidade, para garantir a justiça climática no país.

É por isso que apoiamos iniciativas conectadas à defesa do meio ambiente e dos biomas brasileiros. Integradas ao nosso pilar de Biodiversidade e Mudanças Climáticas, os projetos Coralizar e Flyways Brasil desenvolvem atividades de educação ambiental e conservação e manutenção de espécies de corais e aves limícolas, respectivamente. O primeiro atua na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), maior unidade de conservação federal marinha costeira do país, localizada no litoral de Pernambuco. Já o segundo está presente na Bacia Potiguar, área que reúne uma rede complexa de ecossistemas no Rio Grande do Norte e Ceará e recebeu, recentemente, o título de Sítio WHSRN (Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limícolas), devido à sua importância para a proteção das aves limícolas migratórias e seus habitats a nível hemisférico.

A mudança global do clima é uma das principais barreiras para o alcance dos ODS e o ISP será fundamental para vencer esse desafio. Encerro minha reflexão compartilhando uma publicação do GIFE: O que o Investimento Social Privado pode fazer por mudanças climáticas? Empresas, institutos e fundações não só podem, como devem fazer a diferença nesse processo.

O futuro do planeta também está em nossas mãos.