A curiosidade é uma chama natural nas crianças e, na infância de Hermes, ela brilhou intensamente. Sempre questionador, queria entender as razões profundas das desigualdades ao seu redor — por que alguns tinham tanto enquanto outros tinham tão pouco. Nascido em São Paulo, filho de nordestinos que migraram para o grande centro urbano em busca de uma vida melhor, Hermes, ainda muito jovem, começou a perceber as disparidades sociais que atravessavam o país. Aos 12 anos, já se envolvia em movimentos sociais nas comunidades periféricas de São Paulo, buscando respostas e, mais ainda, soluções para as injustiças que lhe pareciam tão evidentes desde cedo.

Ainda na adolescência, após uma experiência bem-sucedida de cultivo no quintal de sua casa, na Zona Leste de São Paulo, nasceu em Hermes um desejo profundo de conhecer a terra de seus ancestrais e continuar a arte da agricultura. Com sensibilidade e articulação, conseguiu, junto com seus irmãos, convencer os pais a retornarem às raízes. Eles trocaram a casa que haviam construído em São Paulo por uma fazenda abandonada na cidade de Poção, em Pernambuco. Lá, ao reconstruírem a vida entre as terras áridas e férteis, a família se reinventou como agricultores. Foi nesse novo horizonte que em Hermes despertou a vontade de se profissionalizar na agricultura, unindo tradição e conhecimento para transformar a terra em futuro.

Na juventude, Hermes começou a vender mel pelas ruas da cidade, anunciando o doce fruto do trabalho das abelhas, cuidadosamente cultivadas pelos apicultores da região. Ali, algo mais profundo começou a despertar em seu coração: um fascínio crescente pelo universo das abelhas e os segredos do mel. O dinheiro que ganhava era dividido com cuidado, pois parte dele sustentava seu lar e ajudava a preparar o caminho para o seu casamento, enquanto a outra parte era investida em livros de sebo sobre apicultura, tesouros de papel que alimentavam sua alma curiosa. Cada página que virava o levava para mais perto do mistério das abelhas, e, aos poucos, Hermes mergulhava completamente neste mundo, sua paixão crescendo a cada nova descoberta. O zumbido das colmeias tornou-se música para seus ouvidos e o mel, mais que um simples produto — uma ponte para entender a natureza em toda a sua complexidade e beleza.

Mesmo apaixonado pelas abelhas a cada dia que passava, Hermes concluiu seu curso técnico em agronomia na sua cidade natal. Após finalizar a formação, decidiu se mudar para Recife para cursar a faculdade de agronomia. No ambiente acadêmico, encontrou outros jovens com o mesmo entusiasmo e paixão que ele. Não levou muito tempo para fazer novas amizades e, durante o curso, conheceu um grupo de colegas que fundaram a Instituição Caatinga em Ouricuri, Pernambuco. Impressionados com a dedicação de Hermes às causas sociais e seu amor pelas ciências e pelas maravilhas da natureza, convidaram-no a colaborar com as iniciativas da instituição e a residir na cidade de Ouricuri.

Certa vez, já adulto, Hermes viveu uma experiência única: foi picado por uma abelha. Sem notar sua presença, ela pousou silenciosamente em seu braço, fincando o ferrão em sua pele. No instante seguinte, tudo ao seu redor pareceu tingir-se de dourado e as sensações que antes conhecia assumiram uma nova dimensão. A dor estava ali, mas foi ofuscada pela grandiosidade da vivência — era como se o universo estivesse lhe enviando um chamado, um sinal de que seu verdadeiro caminho começava naquele momento.

A essa altura, Hermes já dominava a arte da apicultura. Cinco anos depois, inspirado por essa paixão crescente, fundou, junto com sua esposa, filha e genro, a Escola Feminina de Apicultura de Ouricuri. O propósito da escola ia além da simples prática da apicultura: buscava empoderar mulheres, proporcionando-lhes uma fonte de renda e independência, fortalecendo a comunidade através da união e do trabalho. Para Hermes, as abelhas sempre foram mais que seres alados; eram mestres silenciosas que lhe ensinaram sobre vida, comunidade e transformação.

A ideia de criar uma escola voltada exclusivamente para mulheres surgiu do olhar atento de Hermes sobre a realidade de Ouricuri. A apicultura, até então, era dominada por homens, e as mulheres eram frequentemente excluídas desses espaços. Embora Hermes já oferecesse ações formativas para toda a comunidade, independente do gênero, ele logo percebeu que a renda gerada pelos homens muitas vezes não retornava para fortalecer a economia familiar ou o sustento coletivo da comunidade — ao contrário do que acontecia com as mulheres. Assim, nasceu a escola como um verdadeiro potencializador, um espaço onde cada mulher pudesse se empoderar, aprendendo tanto com a equipe quanto, e talvez mais importante, com suas colegas. Hermes, com seu profundo amor pelas abelhas, foi construindo sua própria colmeia humana, onde cada mulher encontrava a força para desabrochar e alçar seu voo.

Além do mel, Hermes encontrou nas letras e na poesia um outro sabor que lhe dava prazer. Ainda em São Paulo, já escrevia versos soltos, porém foi ao chegar no Nordeste que seu coração encontrou abrigo na cultura dos violeiros. Encantado pela arte do repente e pela força da oralidade, apaixonou-se pela tradição. Com dedicação e disciplina, mergulhou no estudo do improviso e nas formas poéticas que ressoavam na alma dos violeiros. Com o tempo, não apenas dominou a arte, mas também começou a compor seus próprios poemas, que bebiam diretamente das raízes nordestinas, refletindo a riqueza da terra e da cultura que o acolheu.

Hermes vive hoje com sua família e a escola de apicultura no coração da caatinga, no semiárido nordestino. Um lugar que, aos olhos da grande mídia, é frequentemente retratado apenas pelas secas e pelas dificuldades socioeconômicas. Para Hermes, porém, o sertão é um símbolo de força e renovação. Em um de seus poemas, ele escreve: "O sertão e a juventude é força que se renova." Ele enxerga o potencial latente da terra, afirmando que a caatinga é um dos melhores biomas para o desenvolvimento das abelhas, e não se imagina longe desse cenário. A seca faz parte da realidade, mas tão real quanto é a beleza imensa e a rica expressão da natureza que pulsa neste lugar.

Hermes já antecipa o dia em que não mais liderará a Escola Feminina de Apicultura, aspirando que sejam as próprias mulheres a conduzir a gestão. Para ele, o propósito não é apenas formar pessoas para cuidar de abelhas, mas também cultivar lideranças comunitárias. Sua força e crença se manifestam assim como as abelhas: na energia do coletivo. Hermes vê a comunidade não como um simples agrupamento de indivíduos, mas como uma vasta colmeia, produtora de boas ações que beneficiam tanto a região quanto o Brasil. Ele acredita que sua missão vai além deste momento, refletindo o que ele próprio descreve: "Sou uma das vozes do início de uma marcha que não para." Essa marcha é alimentada pela sua poesia, pelo zumbido das abelhas e, acima de tudo, pelo que pulsa em seu coração.

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Créditos
  • Produzido por Agência EDN
  • Texto: Lucas Gregório
  • Fotos: Pedro Paquino e Hérick Almeida
Ficha técnica do vídeo
  • Produção: Agência EDN
  • Direção: Camila Vaz
  • Direção de fotografia e câmera: Pedro Paquino
  • Assistente de fotografia: Hérick Almeida
  • Drone: Pedro Paquino
  • Produção: Vitor Dumont e Camila Vaz
  • Produção executiva: Camila Vaz
  • Colorização: Gabriel Felício
  • Edição: Gabriel Felício e Camila Vaz
  • Finalização: Camila Vaz e Hérick Almeida
  • Acessibilidade: Sâmia Bianchi e Juliana Gonçalves
  • Arte e Motion: Camila Ribeiro e Davi Araújo